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domingo, 15 de junho de 2025
Estado

Do campo à cidade em cem anos: a transformação demográfica em São Paulo

Como o Estado de São Paulo ou de um polo de atração internacional para uma região em transição demográfica, com interiorização do crescimento e envelhecimento populacional acelerado

27 Mai 2025 - 19h00Por Marco Rogério
Agronegócio: o interior, puxado pela produção agrícola e pecuária induziu o crescimento econômico e o desenvolvimento para o interior - Crédito: Foto: Raylton Alves/Agência ANA/Agência BrasilAgronegócio: o interior, puxado pela produção agrícola e pecuária induziu o crescimento econômico e o desenvolvimento para o interior - Crédito: Foto: Raylton Alves/Agência ANA/Agência Brasil

Um estudo da Fundação Seade traça um panorama da dinâmica populacional do Estado de São Paulo ao longo de cem anos (1920-2022), evidenciando profundas mudanças impulsionadas pela urbanização, industrialização e desenvolvimento regional.
A análise da evolução dos componentes vegetativo (nascimentos e óbitos) e migratório (entradas e saídas de pessoas) revela importante reorganização espacial e alterações na estrutura etária da população.

Até a década de 1970, a Capital paulista era um grande polo de atração populacional, com crescimento acelerado devido à intensa migração. Enquanto isso, o interior crescia mais moderadamente e muitas vezes deslocava população em direção à Capital. Inversão marcante ocorre entre 1980 e 2010, quando a Capital reduziu sua capacidade de atração, registrando saldos migratórios negativos, enquanto o Interior se desenvolveu e se tornou um destino para migrantes, inclusive vindos da própria Capital.

Polos regionais no Interior emergiram com forte dinamismo econômico e demográfico, impulsionados por tecnologia, indústria, agronegócio e serviços qualificados. Foi nesta fase, nos anos 1980, durante a redemocratização do Brasil, que municípios como São Carlos e Araraquara se consolidaram como importantes polos econômicos e sociais paulistas. São Carlos voltou seus esforços, juntamente com o Governo Federal na época, para concluir seu polo de alta tecnologia, tendo a Fundação ParqTec como um dos seus pilares, gerando mais de 200 startups de lá para cá.
Muitos classificaram o avanço do interior como “Revolução Caipira”, tendo á frente à época o governador Orestes Quércia, liderança oriunda de Campinas que rasgou o interior paulista com gigantescas obras de novas rodovias e ampliação e melhorias das existentes para ligar o Estado de Leste a Oeste e de Norte a Sul com o restante do Brasil para escoar a produção e facilitar a logística para a indústria paulista.
Nos anos 1990, com o advento do Plano Real e o processo de Globalização, o interior recebeu vários investimentos da indústria automobilística, como Volkswagen (São Carlos), Honda (Sumaré) e etc.  

Araraquara se firmou na produção agropecuária, mas diversificou sua economia, recebendo investimentos como o da Cervejaria Kaiser, hoje Hikenen, o Shopping Center Jaraguá e vários outros importantes investimentos.  
Entre 2010 e 2022, pela primeira vez nos cem anos analisados, o Estado de São Paulo registrou saldo migratório negativo, determinado principalmente pelo saldo negativo da Capital que não foi totalmente compensado pelo saldo positivo do Interior.
A Capital apresentou crescimento populacional reduzido e o Interior, embora crescendo menos que no ado, garantiu o pequeno incremento populacional no Estado. 
Paralelamente à reconfiguração espacial, o Estado vivenciou acentuada transição demográfica. A queda contínua da fecundidade, que atingiu níveis abaixo da taxa de reposição no início dos anos 2000, combinada com o aumento da longevidade, resultou em duas tendências dominantes: a redução do saldo vegetativo e a aceleração do envelhecimento populacional. Em 2022, os idosos (60 anos ou mais) representavam 17,2% da população estadual, um aumento significativo em relação aos 7,7% registrados em 1991. O envelhecimento tornou-se a característica demográfica mais marcante do período recente.

CAPITAL FINANCERIZADA E INTERIOR PUJANTE - O professor, historiador e escritor Ney Vilela, não concorda com a análise do Seade e ressalta que ela está simplificada e esconde outro fenômeno. “Esta análise tem algumas simplificações. A primeira delas é afirmar que houve uma queda na atratividade da Capital Paulista por conta de uma perda de dinamismo. Não foi isso o que acon5eceu. A economia da capital se tornou uma economia financeirizada. Então, as decisões de praticamente tudo o que ocorre economicamente no brasil concentraram-se em São Paulo, na Região conhecida como Faria Lima. Isso é muito falado quando o governo federal precisa ou toma alguma decisão. Imediatamente comentasse se a Faria Lima concorda ou não. Houve, então, uma financeirização da economia da Capital Paulista. Temos, então, uma concentração das decisões econômicas. Então, hoje, os empregos na capital ou são muito bem remunerados e complexos ou são apenas de estores de serviços naquilo que é de menos complexidade”, explica Vilela.
Por outro lado, segundo o historiador, pelo de ponto de vista industrial, São Paulo se tornou pouco conveniente por conta das dificuldades do escoamento de produção. ”Então, os eixos rodoviários e ferroviários e as regiões com maior oferta de população que pode trabalhar nestes setores acaba se deslocando para as cidades médias do Estado de São Paulo. Além disso, o dinamismo da agroindústria acaba também fazendo com que haja uma atratividade para a população que vai trabalhar nestas atividades”. 
Segundo ele, o que aconteceu com a capital de São Paulo foi uma financeirização que não é atrativa para a população apesar da força econômica vinculada a esta concentração de decisões.  “No mais, a urbanização geral do Brasil determina um envelhecimento da população. A cidade de São Paulo não atrai gente porque estas pessoas não conseguiriam encontrar empregos nestas áreas extremamente complexas da Capital Paulista”, conclui.

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