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quinta, 12 de junho de 2025
Censo 2022

Maioria da população se declara católica em São Carlos; evangélicos crescem

10 Jun 2025 - 19h25Por Da redação
Catedral - Crédito: Photograph by Mike Peel (www.mikepeel.net).Catedral - Crédito: Photograph by Mike Peel (www.mikepeel.net).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados do Censo Demográfico de 2022 que traçam um panorama das crenças religiosas da população brasileira. Em São Carlos, 225.922 pessoas participaram da pesquisa, revelando um retrato da diversidade de fé na cidade.

Segundo o levantamento, mais da metade dos são-carlenses (54,91%) declarou pertencer à Igreja Católica Apostólica Romana, somando 124.071 fiéis. O número reforça a predominância histórica do catolicismo no município, influenciado principalmente pela herança europeia trazida por imigrantes portugueses, italianos e espanhóis, entre outros. 

As doutrinas evangélicas, que em censos anteriores eram listadas separadamente por denominações, agora aparecem agrupadas em um único segmento. Elas representam cerca de 23,77% da população, com 53.714 pessoas afirmando seguir alguma vertente protestante.

O terceiro maior grupo do levantamento vem dos sem religião, que envolve cerca de 10,82% dos entrevistados ou 24.466.O Censo também apontou que cerca de 10,93% dos habitantes (23.476 pessoas) afirmaram seguir outras religiões (espiritismo, budismo, candomblé, umbanda, judaísmo, islamismo e etc). Destes, 8.308 são espíritas (3,6%), 2.942 são umbandistas (1,3%) e 63 (0,02%) seguem “tradições”. Outras 195 pessoas (0,8%) disseram aos recenseadores que “não sabem”. Não existem dados sobre o número de seguidores das demais religiões existentes. 

PERIGO DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO - Os dados reforçam o pluralismo religioso presente na cidade, com destaque para a expressiva presença das religiões cristãs e o crescimento dos sem religião. O sociólogo Fransergio Follis afirma que a pluralidade é positiva. “O que é perigoso é o fundamentalismo, ou seja, as tentativas da criação de uma ditadura da maioria e a opressão das minorias religiosas. Uma maioria cristão pode romper com a laicização do Estado e criar até mesmo leis para punir os que não professam da mesma fé que eles. Isso é altamente negativo”, destaca ele. 
Segundo ele, muitas vezes há a discriminação principalmente de religiões de matriz africana. “Existem casos de violência contra os adeptos destas crenças. O Brasil é plural e todos têm que conviver pacificamente. Outro aspecto é muito importante na nossa educação é manter a laicidade. Precisamos educar nossos jovens e muitas vezes até os adultos. Há confusão entre Estado laico e Estado ateu. O Estado laico garante que o Brasil tem várias crenças e garante a liberdade de todos para professarem sua fé. O Estado não pode adotar uma religião, mas garantir que todos sigam aquilo que desejarem”, destaca Fransergio.
Ele afirma que a religião deve ser uma escolha da vida privada das pessoas e que não podem contaminar o Estado. “Uma fé não pode se impor à outra. A pesquisa denota a necessidade de uma educação que coloque o respeito acima de tudo. Se um respeitar a fé do outro, todos poderão viver em paz. Não se pode usar a religião para uso político ou perseguição política”.

O professor e psicólogo Rodrigo Montero destaca que a intolerância religiosa marca o Brasil. “As principais vítimas são as religiões não tão tradicionais, como as de matizes africanas. Uma grande bobagem que se fala no Brasil é que não se pode discutir religião. É justamente o contrário, temos que discutir religião, sim senhor”.
Montero destaca que o predomínio católico ainda persiste, mas há crescimento de outras crenças. “Recentemente tivemos um debate acalorado entre os vereadores Djalma Nery e Gustavo Pozzi. Djalma pregava a retirada dos símbolos religiosos de repartições públicos, o que é coerente, pois o Estado brasileiro é laico. Os cristãos atacaram muito o Djalma, culpando a esquerda. Se for ler a Bíblia cristão tem que ter também uma estátua do Preto Velho, um Xamã e etc. Temos que ou colocar os símbolos religiosos nas repartições públicas de todas as religiões ou de nenhuma, o que é o correto. Uma religião não pode se impor à outra, mesmo que ela tenha a maioria da sociedade”, destaca ele. 

SÃO CARLOS COM UMA RELIGIOSIDADE PRÓPRIA -  O professor, escritor e historiador Ney Vilela afirma que São Carlos tem uma característica religiosa que destoa da maioria das cidades do interior paulista. “A cidade de São Carlos em grande medida recebeu imigrantes italianos e afrodescendentes que não vieram direto da África, mas sim do Nordeste brasileiro, onde o açúcar vivia decadência. Neste sentido o escravizados que vieram para São Carlos já haviam se transferido das religiões animistas africanas para o catolicismo”, comenta.
Ele destaca também que mos últimos anos, observa-se das religiões protestantes e evangélicas. “O patamar de 23% está até um pouco abaixo da média brasileira. O número de católicos de 54,91% também está um pouco abaixo da média brasileira. Também houve uma transição em São Carlos para os ‘sem religião, que abrigam agnósticos, ateus ou os que acreditam em Deus mas não se submetem a nenhuma religião, perfazem estes 15%, aproximadamente o dobro da média nacional”.
Quanto aos afrodescendentes, Vilela destaca que está em curso um reencontro da comunidade negra com as crenças vindas da África. “Eles, de certa forma, com as mudanças sociológicas e comportamentais dos últimos tempos, redescobrem as religiões africanas. Por conta disso temos um relativo crescimento do número de religiosos vinculados à religiões de matizes africanas. São Carlos tem também um pequeno, mas coeso grupo de japoneses, que foram um grupo interessantes de budistas”, fala o historiador.
“Para resumir tudo, nós temos um reencontro dos afrodescendentes com as religiões de matizes africanas, nós temos um grande público universitário que acaba ampliando o número dos ‘sem religião’. São Carlos fica um pouquinho diferente das cidades do interior paulista”, conclui o historiador. 

EVANGÉLICOS PODEM SE TORNAR MAIORIA -  A população que se declara evangélica deve ultraar pela primeira vez o total de católicos no país a partir de 2032, quando o número absoluto de seguidores de cada uma das duas religiões em torno de 90 milhões – de acordo com os últimos dados oficiais, há aproximadamente 22 milhões de evangélicos (22% do total) contra 125 milhões de adeptos do catolicismo (64%).
Os números constam em estudo do demógrafo José Eustáquio Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.
Segundo o especialista, o número de brasileiros adeptos da religião evangélica cresce em média 0,8% ao ano desde 2010, enquanto a quantidade de católicos diminui 1,2% no mesmo período. Com isso, a progressão geométrica aponta para que cada uma das duas religiões correspondam a cerca de 40% da população em 2032.


 

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